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sábado, 25 de janeiro de 2014

Entenda como o botão "soneca" afeta o organismo


Depois de um sábado divertido e um domingo de descanso, sempre chega a sofrida segunda-feira. Se você, assim como eu, não tem o menor talento para acordar cedo naturalmente, então você certamente terá dificuldades para abrir os olhos e encarar os compromissos do dia.

E para piorar a situação, sempre tem aquele toque irritante do despertador que, em meio ao sono, nunca se sabe de onde vem e para que serve. Então, se você é dos meus, você reúne toda a força que tem para alcançar um único objetivo: apertar o botão “soneca”. A paz e o silêncio que surgem logo em seguida parecem compensar o esforço e você já idealiza os próximos cinco abençoados minutos de sono que poderá desfrutar sem a inconveniência do despertador.
A sensação é de que estamos dando mais algum tempo para nosso organismo realmente se recuperar e então poderemos levantar com toda a disposição. Ledo engano. Se você também pratica o ritual matinal do botão “soneca”, você sabe que fica cada vez mais difícil acordar. Logicamente, esse tipo de comportamento influencia diretamente no funcionamento do nosso organismo, então entenda melhor tudo o que acontece com o seu sono

   “Só mais 5 minutinhos”   

Quando você começa a adiar a hora de levantar, o que você realmente está fazendo é tornando o despertar ainda mais difícil. Caso você venha a dormir novamente, o seu cérebro entrará no primeiro estágio do sono, que é o pior momento para ser acordado. E saiba que quanto mais difícil for o despertar, mais temos a sensação de que dormimos mal.

Uma das principais consequências de levantar muito cedo e de forma abrupta é um efeito que recebe o nome de inércia do sono. Batizado em 1976, esse fenômeno se refere àquele momento em que ainda ficamos atordoados por algum tempo, no intervalo entre a hora em que despertamos e o instante em que realmente estamos acordados e plenamente conscientes. Quando mais abruptamente despertamos, mais severa é a inércia do sono.

Podemos até ter a impressão de que esse período passa rapidamente, mas a transição entre o sono e a consciência é gradual e demorada. As partes do cérebro que correspondem às funções fisiológicas básicas passam a funcionar quase que imediatamente, mas a região cortical – que está relacionada com o autocontrole e a tomada de decisões – demora muito mais tempo para ser ativada.

Poucos minutos depois de despertar, a memória, as reações, a atenção, o estado de alerta e até mesmo a habilidade de fazer pequenas operações matemáticas não estão ativos. Uma prova disso é o fato de tarefas simples – como abrir uma porta ou encontrar a luz do banheiro – serem muito mais complicadas logo que nos levantamos.


   A duração da inércia   

Ao entendermos melhor o estado do nosso cérebro logo que acordamos, fica fácil deduzir que esse não é o momento ideal para tomar qualquer tipo de decisão racional. Justamente por causa da inércia do sono, acabamos fazendo coisas que não deveríamos e a principal delas é acionar a função soneca.

Um estudo da Escola de Medicina da Universidade de Harvard descobriu que a inércia do sono pode levar de duas horas a quatro horas para desaparecer completamente. Atividades como tomar café da manhã, tomar banho e entrar em contato com a claridade parecem não alterar os resultados. Tudo isso indica que, não importa o que aconteça, nosso cérebro só trabalha no seu próprio tempo.

Por outro lado, quando despertamos naturalmente, como costuma ocorrer nas manhãs preguiçosas dos finais de semana, isso acontece por conta de dois fatores: a quantidade de luz externa e as configurações do nosso relógio interno – também conhecido como ritmo circadiano. Como nosso ritmo interno não coincide com o tempo real, acabamos utilizando alguns recursos externos que nos ajudam a simular as mudanças que ocorrem no dia a dia.

   Os diferentes horários   

A diferença entre nosso horário natural e biologicamente determinado para acordar e o horário real e socialmente imposto em que nos levantamos recebeu o nome dejet lag social. Esse efeito é calculado a partir da regularidade do sono e não da duração.

Preocupados em entender se estamos realmente dormindo no momento mais adequado para o nosso organismo, Till Roenneberg, professor de cronobiologia da Universidade Ludwig-Maximilians de Munique, conduziu um levantamento e descobriu que cerca de um terço da população sofre de jet lag social extremo, com uma diferença média de mais de duas horas entre seu ritmo natural e o horário socialmente determinado. Outros 69% das pessoas sofrem de maneira mais branda e apresentam uma diferença de pelo menos uma hora.

Em mais um estudo, o pesquisador descobriu que o jet lag social acaba tendo um alto preço: o aumento do uso de álcool, cigarros e cafeína são algumas das consequências, além do crescimento de 33% no risco de obesidade. “O hábito de dormir e acordar em horários ‘artificiais’ pode ser o comportamento de maior risco na sociedade moderna”, afirma Roenneberg.

Segundo o cientista, a falta de regularidade no sono sobrecarrega o organismo de tal maneira que essa é uma das principais razões para que funcionários que trabalham no turno da noite apresentem índices maiores que o normal no surgimento de câncer, condições cardíacas fatais e outras doenças crônicas, como diabetes. Mais uma pesquisa realizada com alunos de Medicina também mostrou que a regularidade do sono, mais do que a duração e a qualidade, afetava o desempenho dos estudantes nas aulas e nas provas.
Como acordar melhor?

Felizmente, os cientistas já sabem que os efeitos da inércia do sono e do jet lag social podem ser revertidos. Eles descobriram que aquela desorientação matinal é resultado do acúmulo de melatonina – o hormônio que regula o sono e costuma ser dissipado cerca de duas horas depois do despertar. Por esse motivo, se conseguíssemos sincronizar nosso sono com a claridade do dia, seria muito mais fácil levantar.

Como isso é praticamente impossível para a maior parte das pessoas, a melhor maneira de começar o dia bem – e não como uma espécie de sonâmbulo funcionando no piloto automático – é despertar no seu tempo. Acordar devagar, sem a pressão e o incômodo do despertador e com a ajuda da claridade e da biologia é a sua melhor chance de tirar seu cérebro do sono incontrolável e trazê-lo aos poucos para a consciência. Sem contar que, quando acordados plenamente, conseguimos aproveitar o máximo que nossas mentes podem nos oferecer.


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